Conceito usado pelo psicólogo francês Vincent de Gaulejac
Segundo a sua teoria, Neurose de Classe é a dificuldade dos descendentes de superar as condições de vida econômica, social e profissional da família.
Se verifica na vida dos descendentes de famílias de trabalhadores rurais, operários, funcionários estatais que evidenciam uma dificuldade de prosperar se escolhem um caminho diferente, como a vocação artística, o comércio, o mundo empresarial ou uma profissão liberal.
A neurose de classe nasce dos limites impostos à realização pessoal do código familiar de normas e tradições:
- Não deve superar seu pai e sua mãe.
- Faça como nós fizemos.
- É melhor caminhar em lugar seguro.
- Mulheres e bois dos seus países. (não se deve casar com pessoas de outras culturas).
- “Não saia do semeado…”
O impulso de realizar a vocação e o caminho escolhido pelo filho não são aceitos pela família. São vividos pelos genitores como um perigo ou uma transgressão às próprias regras de vida, assim permanecem frágeis no sujeito que escolheu se diferenciar da trajetória do clã seguindo seu próprio coração.
Mas a desobediência cria um conflito interior que termina por provocar grandes danos para o indivíduo, traduzindo em falhas em exames e concursos ou incidentes que impedem de efetuar negociações importantes de trabalho, ou (frequentemente depois dos 40 anos) em falência e perdas econômicas e péssimos investimentos.
Outra forma da neurose de classe, consiste na impossibilidade de saborear os frutos da própria ascensão social e do próprio bem estar econômico.
A neurose de classe não atinge somente uma ou duas gerações, mas, muitas vezes, perdura até 4 ou 5 gerações e se estende por mais de um século. Isto acontece quando o destino dos antepassados é particularmente infortunado, com injustiças sofridas muito duras ou humilhantes e com histórias vividas extremamente dolorosas.
A neurose de classe é o produto de contradições que operam sobre três registros (sexual, social e familiar) que se reforçam mutuamente para produzir uma estrutura fechada, ou seja, um sistema que se fecha sobre si mesmo e absorve os elementos anteriores para se autorreproduzirem.
Estas contradições, de origem heterogênea, são transformadas à medida que se ligam entre si em um sistema neurótico.
Definitivamente, é o sujeito neurótico que produz a neurose da qual é ele mesmo o produto: ele se torna produtor do que o produziu.
A abordagem clínica permite compreender as raízes, ao lhe oferecer os meios de se libertar. Para apreender a dinâmica complexa dos processos que regem as relações entre o psíquico e o social, a sociologia clínica é um procedimento ao mesmo tempo sociopsicológico, que visa compreender como as transformações sociais condicionam as atitudes e os comportamentos dos indivíduos, e psicossociológico, que busca analisar o modo como um sujeito intervém como ator, inventa práticas para enfrentar estes conflitos e fazer face às situações sociais.